Novos dados se soman ao Ictio na Amazônia Meridional Brasileira

Novos dados se soman ao Ictio na Amazônia Meridional Brasileira
dezembro 15, 2022 Yira Onzaga
Nota UFTM

Em novembro de 2022, somaram-se a Ictio mais de 12,5 mil registros de peixes dos rios Teles Pires, Arinos, e do rio Tapajós (bacia do Tapajós), na região noroeste do estado do Mato Grosso, Amazônia Meridional brasileira (Figura 1). São dados de produção pesqueira de 2011 a 2022 de pescadores profissionais artesanais da Colônia Z-16 de Pescadores e Aquicultores do Município de Sinop e Região – COPESNOP, coletados por meio de Declarações de Pesca Individuais (DPIs). 

As DPIs são documentos obrigatórios para comprovação da origem do pescado no estado do Mato Grosso. A Sra Julita Burko Duleba, presidenta da Colônia Z-16, que coleta e mantém essas DPIs arquivadas, colaborou com esta ação autorizando a digitalização e divulgação destes registros de pesca.  As informações oriundas das DPIs foram sistematizadas por pesquisadores do Laboratório de Ictiologia Tropical-LIT da Universidade Federal do Mato Grosso-UFMT Campus Sinop, integrantes do projeto “De olho no peixe matrinxã” (Figura 2), coordenado pela Dra. Liliane Stedile de Matos, sócia da Rede Ciência Cidadã para a Amazônia.

As informações sistematizadas aportam mais de 12500 observações de peixes. Atualmente, Ictio conta com mais de 91000 registros, e esse incremento de quase 14% na base de dados será muito bem-vinda, permitindo a Ictio passar dos primeiros 100 mil registros. 

A Colônia de Pescadores Z-16 de Sinop e região atualmente conta com aproximadamente 300 pescadores artesanais profissionais cadastrados. Esses pescadores utilizam a bacia do Rio Teles Pires para sua atividade profissional abastecendo cidades da região onde o peixe também é alimento para comunidades indígenas e ribeirinhas. A região está atualmente ameaçada pelo desmatamento para atividades agrícolas, pesca ilegal com o uso de cevas de soja e também pela construção de empreendimentos hidrelétricos. 

Vinte e oito espécies/grupo de espécies foram identificadas nesses registros de pesca, com especial destaque para os piaus (Anostomidae, mais de 23 ton), os pacus/pacupevas (Serrasalmidae, com mais de 17 ton) e o matrinxã (Brycon spp., com pouco mais de 12 ton). Esses peixes realizam migrações reprodutivas, ressaltando a importância do monitoramento desses estoques frente aos empreendimentos hidrelétricos já construídos. 

Outro ponto importante do levantamento realizado foi a identificação de captura de duas espécies invasoras nessa porção da bacia do rio Teles Pires: o pirarucu (Arapaima gigas – 53 registros, com 58 indivíduos) e o abotoado (Pterodoras granulosus – um registro de seis indivíduos). Para o abotoado (Figura 3), existem registros da espécie na parte do baixo Rio Teles Pires, e a região conhecida como corredeiras/cachoeiras das Sete Quedas agia como limite geográfico para a espécie no médio e alto rio Teles Pires. Essa cachoeira, no entanto, foi inundada pela construção de usinas hidrelétricas na região, e este peixe passou a colonizar a região próxima a Sinop, usada pelos pescadores que contribuíram com esses novos dados ao Ictio. Esses registros reforçam a importância do monitoramento pesqueiro e da plataforma Ictio para coletar e armazenar registros de peixes amazônicos e da pesca a escala, trazendo novas informações muito relevantes quanto às ameaças e medidas de manejo para essas espécies.

O uso do app Ictio na região se iniciou no segundo semestre de 2022, por meio da divulgação do projeto “De olho no peixe matrinxã: utilizando ciência cidadã como ferramenta” junto à Colônias de pescadores e em torneios de pesca. Outras ações, com parcerias de guias de pesca e pescadores amadores, elaboração de um vídeo documentário sobre histórias de pescadores do Rio Teles Pires e ações de educação ambiental em escolas públicas, pretendem fomentar a utilização do app Ictio. O banco de dados incorporado à plataforma Ictio é a primeira iniciativa buscando levantar dados da produtividade pesqueira nesta região. A Dra. Liliane destaca a importância dessas informações para “o conhecimento e tomada de decisões sobre a conservação e manejo da Bacia Amazônica para o bem-estar social e ambiental”, e esperamos que a disponibilização dessas informações possam auxiliar os pescadores da região na discussão e empoderamento sobre seus recursos pesqueiros.  O projeto “De olho no peixe matrinxã” faz parte do Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional – PDCTR da Fundação de Amparo à Pesquisa de Mato Grosso – FAPEMAT e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq do Edital Nº. 009/2021.